quarta-feira, 25 de abril de 2007

Epílogo


Epílogo


Estavam todos na casa do campo. Nada como uma boa noite de sono para amenizar os terríveis acontecimentos do dia, isso se era possível dormir.
Acontecera tanta coisa em um único dia...

A noite se passou, um novo dia estava preste a nascer, e Saori já estava acordada na varanda para vê-lo. Uma bela aurora anunciava o novo dia, era um brilho mágico. Em seguida o sol surgia lentamente...
- Saori...
Saori teve um acesso repentino de susto, mas logo se conteve.
- Seiya... Acordado tão cedo!?
- Pra falar a verdade, nem dormi direito, não consegui... E você?
Apesar de tudo, ela sorriu.
- Seiya, coisas terríveis estão por vir, sabe disso...
- É, sei... – Seiya caminhou lentamente para perto dela. – Mas queria que soubesse de uma coisa...
Saori não compreendeu de cara, o que Seiya estava querendo dizer.
Ele respirou fundo e disse:
- Apesar de tudo que está predestinado a acontecer, não devemos nos afligir. Por mais duro e complicado que seja o desafio, não podemos ficar parados, amedrontados reféns do próprio medo. Devemos enfrentar com bastante garra o nosso destino, afinal, podemos temê-lo, mas não fugir dele. Lembro que uma vez você me disse, que todo ser humano deve viver de acordo com as estrelas que nascem. Uns nascem sobre estrelas de sorte, outros sobre estrelas de azar... A única coisa que devemos fazer, é seguir o destino de nossas estrelas, sejam elas quais forem.
Saori sorriu mais uma vez.
- Você sabe mesmo como animar alguém Seiya.
- Não! Só estou dizendo o que penso e o que é certo.


Passou algumas horas, e agora estavam quase todos reunidos na varanda. Ikki não estava presente.
- Shun, poderia chamar o Ikki um instante? – pediu Saori ao cavaleiro de Andrômeda.
Shun hesitou por um instante, mas logo disse:
- Eu sinto muito Saori, mas o Ikki já partiu.
- Como?
Todos também se assustaram.
- Ikki estava com o humor péssimo. – falou Shun muito triste.
- Ele te disse alguma coisa?
- Eu perguntei, mas ele não quis me contar. Só me disse que não se achava mais digno de ser um cavaleiro de Atena.
- Mas, o que afinal está acontecendo? – perguntou Seiya intrigado.
- Ikki não teve culpa, ele foi mais uma vitima do poder maligno da armadura da ilusão...
- Já que tocou no assunto Saori, o que realmente aconteceu com o Ikki, todos nós aqui sabemos que ele jamais nos trairia. – falou Hyoga muito serio.
- Já tinha ouvido falar no poder maligno dessa armadura, mas só nos jardins suspensos, eu confirmei todas as minhas suspeitas.
Todos na varanda agora, pareciam bastante interessados no assunto.
- A armadura da ilusão pertencia a Thorn, o guerreiro mais fiel a Afrodite. Como todos, Thorn tinha um grande desejo, mas esse desejo, se parecia mais com uma ambição. Thorn queria ser um deus, algo impossível, pois os deuses já nascem deuses, e humano algum poderia quebrar esse fato. Devido aos inúmeros feitos de Thorn, Afrodite resolveu tornar esse desejo realidade, mas antes, ele devia cumprir uma árdua tarefa para provar se ele era digno ou não para possuir esse imenso poder.
A cada palavra dita por Saori, os rapazes ficavam mais ansiosos para saber onde essa história iria chegar.
Ela prosseguiu:
- Para essa tarefa, Afrodite entregou-lhe uma nova armadura, a armadura de espinhos, feita com espinhos sagrados de rosas negras. Rosas raras de seu jardim...
- E essa tarefa era eliminar todos nós... – falou Seiya com bastante certeza.
- Isso mesmo, Thorn deveria derrotá-los, e trazer a sua armadura manchada com o sangue de vocês, como provar do ato. Segundo Afrodite, esse era o castigo mínimo para quem cometeu atos terríveis e imperdoáveis.
- E onde é que o Ikki entra nessa história? – perguntou Shun aturdido.
- Bem, segundo a lenda, ninguém pode abandonar a armadura da ilusão assim. Antes de abandoná-la, o antigo dono deve indicar um novo hospedeiro. Mesmo que a pessoa lute pelo lado da justiça, a armadura domina a mente do usuário, transformando-o em maligno, essa é a sua principal função, iludir...
- Então, o Thorn, escolheu o Ikki?! Mas por quê?
- Não tenho muita certeza, mas pensem comigo e vejam se não faz sentido. Para ter o desejo realizado, Thorn tinha a árdua missão de acabar com vocês cinco. Ele sabia muito bem, que não seria nada fácil, afinal, vocês já derrotaram deuses. Para muitos Ikki é visto como o cavaleiro de bronze mais forte, mas na verdade o que deixa Ikki tão forte é a sua capacidade de regeneração, por possuir a armadura de fênix, a ave imortal...
- Então foi isso... – Seiya pareceu compreender antes do fim da história.
Saori também percebeu que Seiya também havia entendido.
- É possível que Thorn achava Ikki o mais ameaçador de nós, e como apareceu essa oportunidade caída do céu de tirá-lo de caminho...
- Tudo isso para facilitar a sua tarefa, além do mais, ganharia um aliado. – completou Shiryu.
- Exatamente! – finalizou Saori.
- Eu não consigo acreditar nisso... – Shun ficou boquiaberto.
- Só uma coisa – Shiryu parecia intrigado. – Então, pra quem o Ikki enviou a armadura, afinal, ele também foi seu hospedeiro e também a abandonou.
- Isso ainda é um mistério. – falou Saori.
“Agora eu entendi...” – pensou Hyoga.

O sol estava se pondo de novo, finalmente revelando o fim de tarde daquele longo dia. Saori estava mais uma vez na varanda, só que dessa vez sozinha. Pensativa mais uma vez. Os garotos estavam caminhando pelo campo, apreciando o belo cenário e aliviando a cabeça, afinal foram acontecimentos pesadíssimos, e isso era o melhor a se fazer.
De repente, um pensamento indevido voltou a atormentá-la. Foi à misteriosa visita que recebeu no santuário da Grécia nos últimos dias, e lhe revelou o motivo da sua angustia atual.
Ela mergulhou claramente naquela lembrança.

- Você?
- Feliz em me ver Atena?
- O que faz aqui Hermes?
- Que maneira ingrata de receber um companheiro. Creio que nesta era, nós nunca nos encontramos antes, então por que não me recebe com honra?
- Não vejo honra alguma em sua visita.
- Estou apenas cumprindo ordens Atena, nada mais...
- Ordens?
Apesar da pergunta, Saori sabia mais do que ninguém a principal função de Hermes, o deus da velocidade. Ele era o mensageiro dos deuses, e precisamente, viera trazer algum recado divino. Hermes estava trajando uma armadura dourada, e possuía asas na cabeça e nos pés, isso para facilitar o seu trabalho de mensageiro. Segurava um cajado dourado com três asas, e havia um tipo de fita branco-azulado em suas costas, que também ajudava no seu trabalho, deixando-o mais leve do que o vento.
- Sim, o senhor supremo quer que você saiba, que a partir de hoje, você não domina mais a terra.
- O que?
- Isso mesmo, ele acha que não é mais digna de tal ato.
- Sempre cumpri muito bem a minha obrigação...
- Você se sujou com os humanos. Jamais humanos e deuses se ligam em elos tão fortes.
- Então, Ártemis, ganhou mesmo a posse do santuário e da terra?
- Ártemis? Não ela não. Ela não se interessou. Acha que é muito pouco pra ela. Afrodite que é a nova governanta.
- Afrodite? Então finalmente os doze deuses despertaram.
- Todos não, mas esse dia está próximo... Em todo caso eu já dei o meu recado, tenho que ir agora.
Ele se virou para partir novamente.
- Espere! Onde Afrodite se encontra?
- O que está pensando?
- Tenho contas a acertar com ela. Preciso vê-la imediatamente.
- Não sei se devo...
- É apenas uma visita. Pelo menos avise a ela que quero vê-la.
- Quem está pensando que é?
- Hermes que você queira ou não, você é o mensageiro divino, e tem a obrigação de transportar mensagens, seja de qual for o deus...
Hermes calou-se.
- Tudo bem, venha comigo.

Aquele pensamento não saia da sua cabeça. Fora assim que tudo começou...

No fim do dia, o sol já havia desaparecido; a noite chegou lentamente e uma garoa caia sobre o campo. A brisa leve que soprava, dava uma sensação de bem-estar e aconchego.
Todos já estavam descansando novamente, exceto Seiya, que foi ao encontro de Saori que estava mais uma vez na varanda, pensativa com um a triste.
- Apreciando a chuva?
Ela retribuiu o afeto com um sorriso.
- Enquanto posso, tenho que apreciar as coisas belas da vida...
- Não gosto quando fala assim? Parece tão pessimista...
- Desculpe, mas...
Seiya já estava ao seu lado novamente.
- Saori, acho que devo complementar aquilo que eu disse hoje de manhã...
Saori baixou a cabeça.
- Somos a justiça, o bem! A verdadeira vitória está do lado daqueles que têm o coração puro, não dos ambiciosos e arrogantes, sejam eles quem for... E mesmo que não esteja, eu não desistirei nunca, provarei que quando quero uma coisa, eu consigo. Consegue entender? Devemos acreditar em nós mesmo, lutar por nós mesmo, e mesmo que o nosso destino esteja traçado de outra forma, nós conseguiremos muda-lo, pois o que decide o nosso futuro são as nossas escolhas... Não vou negar que estou com medo, é normal, mas como já disse, devemos acreditar em nós mesmo. Se não fizermos isso, quem irá fazer?
As últimas palavras de Seiya, eram exatamente o que Saori estava precisando ouvir.
- Estou sem palavras...
- É isso, tudo que tenho a dizer...
Saori suspirou, só que desta vez parecia aliviada. Levantou a cabeça determinada e disse:
- Tem razão! Quando esse dia chegar, mostraremos que é preciso muito mais do que ser divino para vencer...

A noite caiu completamente e a garoa se transformou numa pesada chuva. As nuvens negras no céu, anunciavam que aquela seria mais uma longa noite...


“Acreditar que uma coisa pode ser feita é essencial”

Aldo Novak

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